segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Capítulo 3: Magia Sensata

Sofia fica espantada, empurrando Álvaro, que se afasta dela.
– O que foi? – pergunta o advogado.
– Eu não conheço você direito. Você pode estar se aproveitando da minha fragilidade. Não sou de beijar qualquer um.
– Eu não sou qualquer um.
– Eu quero dizer que preciso de um tempo.
Sofia continuada afastada de Álvaro, porém ele tenta se aproximar dela.
– Um tempo... Você sabe que a vida nem sempre tem o tempo que a gente impõe pra certas coisas, não sabe? – fala Álvaro, insistindo.
– Não se trata disso. É muito cedo pra nós dois nos envolvermos, Álvaro, é uma coisa muito... Muito delicada.
– Você poderia me explicar. Eu acho que eu entenderia.
– Não, você não entenderia. Você ainda não me conhece, Álvaro. Não me conhece como um todo, você não sabe quem eu sou, o que eu fiz, minhas motivações e meus sentimentos. Eu sou um tornado. Não é simplesmente querer me entender, não, as coisas precisam de tempo, tudo precisa. Há tempo de nascer, morrer e colher. Há tempo pra tudo.
– Você fala como se existisse algum segredo enorme na sua vida. Existe?
– Tudo que você precisa saber é que um dia você saberá.
– Isso soa muito poético, pode acreditar. E, se você diz que é assim, então assim será. Mas tem uma coisa. Você precisa de um lugar para ficar, Sofia. Eu sei onde pode ficar.
– Onde?
– Na pensão de Hanna Curie.
– É perto?
– Sim.
– Então vamos logo porque estou cansada.
Álvaro vai junto com Sofia à pensão de Hanna Curie, porém eles sequer conversam no curto trajeto. As ruas estão iluminadas e muitas pessoas passam. Eles chegam à pensão, e no lado externo da grande casa, Álvaro fala:
– É isso. A pensão de Hanna Curie. Eu não posso afirmar com precisão, mas acho que esse é o lugar mais interessante de se viver em Pitenópolis.
– Me permite um palpite? Acho que é aí que você vive.
– Como sabe?
– Você me trouxe direto ao covil. Espertinho. Não foi difícil de se presumir que me traria ao local onde mora. É um bom local?
– De família. A dona é muito amiga, uma mulher esplêndida. Você vai gostar.
– Vou te fazer uma confidência: Eu gostei. Não só do local, mas de saber que ficaremos próximos um do outro, embora eu não esteja querendo dizer que necessariamente iremos nos envolver.
– Compreendi. Mas acho bom entrarmos, se você quiser fazer sua hospedagem ainda hoje. Vamos?
– Claro!
Os dois entram na pensão. Sofia observa detalhadamente todos os objetos e sorri.

***
Na sala de jantar da casa de Regina e Jorge Albuquerque, a empregada está servindo a mesa. A sala de jantar é enorme, com uma mesa grande, e todos os objetos são muito caros e importados. Regina e Jorge já estão sentados, porém Ângela chega e começa a se servir, ignorando o trabalho da empregada. Após a saída da funcionária, todos começam a comer com muita delicadeza e elegância, características comuns da família Albuquerque.
– Ao menos poderia ter deixado a empregada lhe servir, minha filha... Ideias comunistas são interessantes, mas não quando são postas em prática. – diz Jorge, irritado.
– É brincadeira do seu pai, minha filha. Mas acho que você tem algo a dizer, não tem, Ângela? – pergunta Regina, tentando tranquilizar a filha.
– É, eu tenho.
– E é direcionado a mim? Deve ser algo muito interessante pra sua mãe não ter me confidenciado ainda. Conte. – fala Jorge, com tom de imposição e arrogância.
– É sobre meu futuro. – revela Ângela, que continua jantando.
– Vinhos Albuquerque estará em boas mãos. – diz Jorge, com tom de orgulho.
– Eu não duvido que o senhor encontre alguém que cuide bem dela, mas essa pessoa provavelmente não serei eu.
– Eu disse que você precisava abordar esse assunto com delicadeza, Ângela. – lembra Regina.
– Não há nada melhor que a verdade nua e crua. – diz Ângela, sem temer.
– Mas que brincadeira é essa? Como assim não assumirá a empresa que seu pai levou anos para elevar? – desaponta-se Jorge.
– Simplesmente não assumindo. Eu andei pensando bem, revendo alguns conceitos e apenas decidi levar como profissão algo em que eu me sinta bem, ou seja, decidi fazer faculdade de pedagogia. E não, eu não irei ser pedagoga. Penso em algo mais humano, quero ser professora. – revela Ângela, feliz e aliviada.
– Como assim ‘quero ser’? Você não tem o que querer! Ainda mais optar por uma profissão medíocre como essa, Ângela, isso é inadmissível para um Albuquerque. Eu exijo que você mude de ideia.
– Sinto em dizer que isso não vai ser possível. Eu já fiz minha escolha, e eu serei professora.
– E vai fazer o que depois disso? Hein? Sair pela cidade distribuindo cesta básica pros miseráveis, sopa pros desalojados e kit humildade pros ricos?
– A ideia não é assim tão péssima, eu posso levar em consideração.
– Chega de ironias, Ângela, chega! Cresça. Você é uma Albuquerque, mas não uma simples Albuquerque, você é minha filha e herdeira da Vinhos Albuquerque. Acha pouco?
– Eu acho até demais.
– Então tome um rumo! Você deve assumir os negócios da família, como única herdeira disso tudo, deve optar por uma profissão em que consiga fazer tudo isso crescer!
– Basta, meu pai, basta. O senhor quer o que? Quer apenas que eu siga suas ordens, que eu faça o que lhe é melhor. Mas eu vou fazer aquilo que me agradar, não vou ser um mero peão de algum jogo imposto pelo grandioso Jorge Albuquerque. Ah, isso não.
– Ângela, tenha calma. – recomenda Regina, desesperada com a discussão entre Ângela e Jorge.
– Calma, mãe? Está querendo que eu seja calma, mas a calma que a senhora me pede deve ser que eu seja conivente com os desejos do meu pai. Não, eu não serei calma! Eu sou uma pessoa com desejos próprios, eu estou dizendo que vou seguir uma profissão, um sonho, e é isso que eu seguirei. Até mais tarde, os dois. E não pense, papai, que o senhor vai conseguir me fazer mudar de ideia, pois não vai.
Ângela arrasta sua cadeira para trás e sai da sala de jantar sem terminar de comer, deixando seu pai com expressão de perplexidade e sua mãe abafando um sorriso.
– Está vendo onde foi a liberdade de pensamento que você quis dar a ela? Uma filha minha saindo da mesa antes do jantar, elevando a voz e se achando a dona da razão. Onde isso vai parar? – indigna-se Jorge.
– Onde vai eu não faço ideia, mas espero que eu acompanhe a carruagem e esteja bem perto pra ver. Com licença. – diz Regina, retirando-se da mesa.

***
E na pensão de Hanna Curie, Álvaro e Sofia entram. Hanna está no balcão da recepção assinando alguns papéis.
– É ela. A grande Hanna. – diz Álvaro a Sofia.
– Álvaro? Tão cedo e você de volta... E quem é essa moça? – pergunta Hanna.
– Me chamo Sofia. Prazer em conhecê-la. – apresenta-se Sofia.
– E pretende se instalar na minha pensão? – pergunta a dona da pensão.
– É, sim, a Sofia veio alugar um quarto. – conta Álvaro.
– Hum, bem, não me leve a mal, mas... Ela tem como pagar?
– As minhas economias são poucas, mas são o suficiente pra arcar com as despesas. Pode ficar tranquila, dona Hanna. – diz Sofia.
– Bom, fico mais tranquila sabendo disso. Afinal de contas, a pensão não vive de vento, não?
– Claro. – responde Sofia.
– Bom, podemos ir escolher seu quarto?
– Nossa, claro!
Os dois entram em um quarto bem pequeno e arrumadinho. No quarto, há uma cama, um pequeno armário, uma luminária e uma cadeira. A pintura das paredes com a cor azul está inacabada e há algumas rachaduras na parede.
– Pelo que você pode pagar, é isso que eu tenho a oferecer.
– Nossa, mas tá muito bom! Muito arrumadinho, é aqui mesmo que eu quero ficar.
– Então já que estamos todos de acordo, e já que a Sofia está instalada, já pode conhecer os outros hóspedes. Que tal? – sugere Álvaro.
– Seria uma honra. – diz Sofia.
– Estão todos na sala, bando de desocupados, só sabem ver televisão. Leva ela, Álvaro? – brinca e sugere Hanna.
– Claro que levo.
Ao chegarem à sala, os outros hóspedes ficam encarando Sofia curiosos.
– Ninguém aqui dá boa noite? – pergunta Álvaro.
– Boa noite. – respondem os hóspedes.
– Boa noite. – diz Sofia.
– Desculpa a indelicadeza, mas... Quem é você? – pergunta Augusto.
– Meu nome é Sofia.
– A Sofia é a nova moradora da pensão. – conta Álvaro.
– Ah, então se é assim, seja muito bem vinda Sofia. – diz Cléo.
– Você vai gostar muito da pensão, o ambiente aqui é muito agradável. – fala Josefina, com seu jeito sempre doce.
– É um prazer conhecê-la. – fala Tito.
– Imagina, o prazer é todo o meu.
Todos se encaram e sorriem. Hanna Curie, a dona da pensão, chega à sala e diz:
– Tudo muito bem, tudo muito bom, todos já sintonizaram na Sofia, mas amanhã o dia nasce cedo e sem esperar ninguém. Que tal irmos dormir?
– É uma excelente ideia. Já estou morrendo de sono. – diz Tito, rindo.
– Sofia já decorou onde é o quarto, certo? – brinca Hanna.
– Já, sim, claro. Obrigado, Hanna, pela hospitalidade. Aliás, obrigado a todos vocês, em especial ao Álvaro, que me trouxe até aqui. Eu serei muito grata. Boa noite. – agradece Sofia, retirando da sala junto com os outros hóspedes, que vão a seus quartos.
Hanna fica na sala pensando, um tanto quanto interrogativa, segurando um livro na mão sobre magia e cartomantes.
***
No quarto de Augusto e Álvaro na pensão, eles conversam.
– Bonita ela, né? – sugere Álvaro.
– A Sofia? É, muito bonita. E parece ser uma garota muito gente boa, também. – comenta Augusto.
– Gente boa, bonita, interessante, inteligente, as qualidades da Sofia são excepcionais.
– Vem cá, Álvaro, cê tá gostando dessa garota?
– Eu? Gostando da Sofia? Tá tão na cara assim?
– Tá, tá bem na cara.
– Eu não sei, Augusto, está sendo tudo tão rápido... Ela é uma garota brilhante. E mais cedo, na praça... Bem, eu e ela nos beijamos.
– Como assim?
– Não foi tão consentido quanto eu gostaria, ela estava bem receosa, e eu até entendo ela, mas... Eu não vou desistir. Eu sinto uma coisa tão intensa entre a gente, como se já nos conhecêssemos de uma outra vida, uma outra estação, é uma... Uma sintonia tão intensa, uma coisa tão bacana...
– Apaixonado. Cê tá apaixonado por essa Sofia.
– Ela é frágil, Augusto. Eu vou proteger ela do tal namorado, se ele vir atrás dela, isso eu já me decidi.
– Ela tem namorado?
– Deve ser ex, sei lá, é uma situação bem delicada.
– Bem, eu vou tentar entender essa situação enquanto eu durmo. Bora deitar?
– Como diria o povo da cidade grande: Já é. Boa noite.
Cada um se deita em sua cama. Álvaro fica olhando para o teto, pensando em Sofia.

***
Na cozinha de casa, Jenny frita um ovo já que está com muita fome, enquanto Mary Leh medita no tapete da sala. Jenny canta enquanto cozinha:
– Nas panelas, no telhado, sujeira pra lado. Ninguém respeita a prostituição, mas todos acreditam no banco da lotação... Que país é esse? Que país é esse? Mary, eu acertei a letra da música? Mary? – pergunta Jenny, após cantar, porém ela vai até Mary, já que a irmã continua meditando.
– Cê tá me ouvindo? Eu acho que decorei a letra daquela música que você gosta, da Legião Humana, saca? Vou cantar...
 Nesse momento, ouve-se um som de explosão. Mary acorda do transe. Na cozinha, a frigideira pega fogo e explode.
– Nossa... É como diz a letra da música: Sujeira pra todo lado. – brinca Jenny.
– Eu não posso nem meditar que você já me apronta, que foi, Jenny? – pergunta Mary, espantada.
– Nossa, eu aqui na maior boa vontade, fazendo um rango pra gente, aprendendo a letra da música que tu curte, e você aí, com essa ignorância toda. Sabe o que eu digo? Eu me recuso!
– Desculpa, Jenny. Mas eu estava meditando. Não gosto de ser atrapalhada quando medito, você sabe disso.
– Ah é, desculpa. Mas e aí, bora limpar essa bagunça?
– Antes eu preciso te dizer uma coisa. Sabe a entidade que fala com a gente?
– Sei sim. O que tem ela?
– Ela nos deu uma missão muito importante. Devemos arrumar dois porcos e um corvo. E vivos!
– Mas pra quê?
– Bom, isso ela ia dizer quando você me tirou do transe, mas deve ser pra algum ritual... O fato é que devemos provar nossa fé, devemos obedecer as entidades superiores. Amanhã cedinho partiremos em busca do que foi pedido. E acho melhor deixamos a limpeza pra outra hora e irmos dormir. Quem sabe a entidade não se comunica e diz pra que temos que encontrar tais animais?
– Boa ideia, minha irmã. Boa ideia. Mas vem cá: Como vamos arrumar esses bichos aí?
– Vamos a fazenda Leite de Porca, fica pertinho daqui. Agora vamos pra cama. Anda. – fala Mary, em tom autoritário, indo ao quarto, junto com Jenny.

***
Na casa de Sofia e Max em Bulires, ele e Carmen andam praticamente nus e arrumam suas mochilas para uma viagem.
– Para um pouco e me diz: Pra onde a gente vai? – questiona Carmen, curiosa.
– Você ainda pergunta? Vamos atrás dessa vaquinha da Sofia, horas. – fala Max, rindo e provocando o riso de Carmen.
– E por que nós temos de ir atrás dessa infeliz? Sei lá, ela é tão sem sal, eu sou muito mais eu...
– Eu também sou mais você, meu amor. Mas a Sofia é meu lucro, é o nosso futuro garantido. Eu já te expliquei sobre o meu esquema.
– Ah sim.
– Não se esqueça, Carmen: eu sou max, muito máx, e não é só o nome. Por isso que esse esquema nunca dá errado comigo.
– Se você resolver me prostituir, serei obrigada a bancar a Nazaré Tedesco e te empurrar da escada dessa casa horrível. Mas enfim, acho que não devemos perder tempo, a galinha da Sofia já deve estar bem longe... Onde podemos procurar?
– Vamos começar em Pitenópolis e Mirolis, eu acho.
– Boa ideia. Vamos logo.
– Primeiro vamos arrumar nossas coisas.
– Então tá. Mas vem cá, Max... A songa monga da Sofia pode ter um vestígio de inteligência e voltar. Que acha da gente se antecipar e deixar uma surpresa praquela vaca velha?
– Não entendi.
Carmen pega uma caixa de fósforo e uma garrafa de álcool. O casal coloca fogo na casa. Carmen ri bastante e em tom alto. Os dois saem da casa carregando algumas bolsas e malas. Em seguida, sobem numa moto e saem em disparada. Poucos minutos depois, a casa explode.

***
Nem bem o dia anterior sai da cabeça do povo de Pitenópolis, o novo dia já raia com a promessa de ser cheio de sonhos, amores e alegrias. E na pensão de Hanna Curie, todos estão tomando o café na sala de jantar, menos Augusto. O clima é de bem estar. A mesa está repleta de alimentos e bebidas, como sucos de diferentes frutas, pães, bolos, laticínios, etc. Depois de um tempo, Augusto chega, vestindo uma roupa simples, composta por uma calça cinza, blusa azul e sapato preto.
– Apareceu o Margarido! Bom dia, Augusto. – brinca Hanna.
– Bom dia Hanna, bom dia pessoal. Eu estou quase atrasado. Até mais. – avisa Augusto, que pega uma maçã e se retira.
– Ele nem falou conosco, Tito. – fica chateada Josefina.
– Ele disse que está quase atrasado, querida. Vamos deixar o Augusto trilhar a vida dele. – responde Tito, abraçando Josefina.
Sofia também chega à sala de jantar, dizendo:
– Bom dia.
– Bom dia, Sofia! – cumprimenta Josefina, com tom adorável.
– Bom dia, Sofia. Como foi a sua primeira noite por aqui? – pergunta Hanna.
– Dormi muito bem. Eu estava exausta, e agora me sinto maravilhosa.
– Milagres de Hanna Curie. Senta aqui do meu lado, Sofia? – convida Álvaro.
– Sim. – responde Sofia, sem jeito.
 Todos continuam tomando café, mas dessa vez em silêncio.
– Tá mais relaxada agora? – pergunta Álvaro à Sofia.
– Tô, sim.
– Uma noite de sono sempre ajuda nessas situações...
– É. Ajuda mesmo.
– E você pensou no que aconteceu ontem? Digo, o beijo.
– Eu dormi bastante. E foi imediato. Não deu tempo que ficar pensando em nada.
– Mas agora você está acordada. Dá tempo de pensar e de realizar.
– Bom, eu não tô com fome agora... Eu vou escovar meus dentes e ver o que eu faço do meu dia. Até mais. – diz Sofia, quase saindo da sala.
– Gente, vocês viram aquele incêndio lá em Bulires? –  pergunta Cléo.
– Como assim? –  pergunta Sofia.
– Colocaram fogo numa casa lá. Saiu até no jornal daqui de Pitenópolis. Olha aqui a casa, Sofia, antes e depois do incêndio. – fala Cléo, mostrando o jornal para Sofia.
– É a minha casa.
– Como assim, Sofia? – pergunta Álvaro.
– Essa casa da foto é a minha casa. Aqueles dois botaram fogo nela.
– Quem são ''aqueles dois''? – pergunta Álvaro.
Sofia sai da sala chorando,  deixando Álvaro pensativo.
Do outro lado da mesa, Hanna fica observando Álvaro e lembrando de suas paixões do passado.

***
Na vinícola da ''Vinhos Albuquerque'', os funcionários estão em mais um dia duro de trabalho. Augusto chega à vinícola, andando depressa. Ele cumprimenta Pedro:
– Bom dia, Pedro.
– Bom dia, Augusto. Vou lhe mostrar as tarefas do dia.
Pedro mostra as tarefas para Augusto, que logo aprende. Após um tempo, Augusto inicia seu trabalho na coleta de uvas. Jonas e Aurora também trabalham nessa tarefa, até que Jonas humilha Augusto:
– Você por aqui, malabarista? O nível caiu bem. – comenta Jonas a Augusto, com cara de desprezo.
Augusto não responde Jonas e prefere ignorá-lo.
– Jonas, não faça isso. Ele está começando hoje. O Augusto é um bom rapaz, é amigo da Leia. – fala Aurora ao marido.
– Não estou nem aí.
De longe, Pedro observa a cena e aproxima-se da situação.
– Jonas, você quer ser demitido? – pergunta Pedro a Jonas, com tom de ameaça.

***
No seu quarto, Ângela mexe em seu notebook. O aparelho é novo e contém adesivos de flores na sua parte traseira. Regina entra no quarto.
– Quantas vezes eu pedi que a senhora batesse antes de entrar? Eu tenho minha privacidade, mãe. – fala Ângela.
– Pois é, minha filha, me desculpe. Eu esqueço sempre que você cresceu, não é mais minha menina, e sim uma mulher adulta.  – desculpa-se Regina, aproximando-se da filha.
– Só pelo jeito como a senhora fala comigo eu a perdoo, mas que não se repita.
– Não irá se repetir. Mas vem cá, minha filha, vim tratar de um assunto sério com você...
– Se for recado do meu pai, eu dispenso. Nada me fará mudar de ideia.
– Vim sim a pedido de seu pai, confesso. Mas é algo que eu concordo com ele. Ele insiste que você vá até a vinícola, veja como é feito o trabalho, tudo. Talvez, se você ver com seus próprios olhos, você mude de ideia.
– Não sei...
– Você quer ser professora, não quer? Então, minha filha, a ignorância e o desdém são características abomináveis nessa profissão. Vá até a vinícola conosco, conheça o trabalho. Se não mudar de ideia, vai ter uma história a contar aos seus alunos: a produção de vinhos. Que tal?
– Só porque a senhora me pediu, dona Regina, eu aceito. – responde Ângela, sorrindo.

***
E na vinícola Albuquerque, Jonas fica com medo de ser demitido e desculpa-se com Augusto:
– Desculpa aí, Augusto.
– Agora sim, Jonas. Espero que isso não se repita. – avisa Pedro.
– Não irá. Acho que agora, então, nós podemos voltar ao trabalho. Ou mais algum bom samaritano vai querer entrar pela causa de alguém? – diz Jonas, provocando um silêncio na vinícola.
Para a surpresa de todos, Ângela e Regina Albuquerque aproximam-se.
– Boa tarde. – diz Regina, sorrindo.
– Dona Regina? Ângela? O que fazem aqui? – pergunta Jonas, surpreso.
– Então... Ângela... Você é muito mais linda do que eu imaginava! – fala Augusto, em tom baixo, porém somente Ângela o escuta.












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