Sofia fica espantada, empurrando Álvaro, que se afasta dela.
– O que foi? – pergunta o advogado.
– Eu não conheço você direito. Você pode estar se
aproveitando da minha fragilidade. Não sou de beijar qualquer um.
– Eu não sou qualquer um.
– Eu quero dizer que preciso de um tempo.
Sofia continuada afastada de Álvaro, porém ele tenta se
aproximar dela.
– Um tempo... Você sabe que a vida nem sempre tem o tempo
que a gente impõe pra certas coisas, não sabe? – fala Álvaro, insistindo.
– Não se trata disso. É muito cedo pra nós dois nos
envolvermos, Álvaro, é uma coisa muito... Muito delicada.
– Você poderia me explicar. Eu acho que eu entenderia.
– Não, você não entenderia. Você ainda não me conhece,
Álvaro. Não me conhece como um todo, você não sabe quem eu sou, o que eu fiz,
minhas motivações e meus sentimentos. Eu sou um tornado. Não é simplesmente
querer me entender, não, as coisas precisam de tempo, tudo precisa. Há tempo de
nascer, morrer e colher. Há tempo pra tudo.
– Você fala como se existisse algum segredo enorme na sua
vida. Existe?
– Tudo que você precisa saber é que um dia você saberá.
– Isso soa muito poético, pode acreditar. E, se você diz que
é assim, então assim será. Mas tem uma coisa. Você precisa de um lugar para
ficar, Sofia. Eu sei onde pode ficar.
– Onde?
– Na pensão de Hanna Curie.
– É perto?
– Sim.
– Então vamos logo porque estou cansada.
Álvaro vai junto com Sofia à pensão de Hanna Curie, porém
eles sequer conversam no curto trajeto. As ruas estão iluminadas e muitas
pessoas passam. Eles chegam à pensão, e no lado externo da grande casa, Álvaro
fala:
– É isso. A pensão de Hanna Curie. Eu não posso afirmar com
precisão, mas acho que esse é o lugar mais interessante de se viver em
Pitenópolis.
– Me permite um palpite? Acho que é aí que você vive.
– Como sabe?
– Você me trouxe direto ao covil. Espertinho. Não foi
difícil de se presumir que me traria ao local onde mora. É um bom local?
– De família. A dona é muito amiga, uma mulher esplêndida.
Você vai gostar.
– Vou te fazer uma confidência: Eu gostei. Não só do local,
mas de saber que ficaremos próximos um do outro, embora eu não esteja querendo
dizer que necessariamente iremos nos envolver.
– Compreendi. Mas acho bom entrarmos, se você quiser fazer
sua hospedagem ainda hoje. Vamos?
– Claro!
Os dois entram na pensão. Sofia observa detalhadamente todos
os objetos e sorri.
***
Na sala de jantar da casa de Regina e Jorge Albuquerque, a
empregada está servindo a mesa. A sala de jantar é enorme, com uma mesa grande,
e todos os objetos são muito caros e importados. Regina e Jorge já estão
sentados, porém Ângela chega e começa a se servir, ignorando o trabalho da
empregada. Após a saída da funcionária, todos começam a comer com muita
delicadeza e elegância, características comuns da família Albuquerque.
– Ao menos poderia ter deixado a empregada lhe servir, minha
filha... Ideias comunistas são interessantes, mas não quando são postas em
prática. – diz Jorge, irritado.
– É brincadeira do seu pai, minha filha. Mas acho que você
tem algo a dizer, não tem, Ângela? – pergunta Regina, tentando tranquilizar a
filha.
– É, eu tenho.
– E é direcionado a mim? Deve ser algo muito interessante
pra sua mãe não ter me confidenciado ainda. Conte. – fala Jorge, com tom de
imposição e arrogância.
– É sobre meu futuro. – revela Ângela, que continua
jantando.
– Vinhos Albuquerque estará em boas mãos. – diz Jorge, com tom
de orgulho.
– Eu não duvido que o senhor encontre alguém que cuide bem
dela, mas essa pessoa provavelmente não serei eu.
– Eu disse que você precisava abordar esse assunto com
delicadeza, Ângela. – lembra Regina.
– Não há nada melhor que a verdade nua e crua. – diz Ângela,
sem temer.
– Mas que brincadeira é essa? Como assim não assumirá a
empresa que seu pai levou anos para elevar? – desaponta-se Jorge.
– Simplesmente não assumindo. Eu andei pensando bem, revendo
alguns conceitos e apenas decidi levar como profissão algo em que eu me sinta
bem, ou seja, decidi fazer faculdade de pedagogia. E não, eu não irei ser
pedagoga. Penso em algo mais humano, quero ser professora. – revela Ângela,
feliz e aliviada.
– Como assim ‘quero ser’? Você não tem o que querer! Ainda
mais optar por uma profissão medíocre como essa, Ângela, isso é inadmissível
para um Albuquerque. Eu exijo que você mude de ideia.
– Sinto em dizer que isso não vai ser possível. Eu já fiz
minha escolha, e eu serei professora.
– E vai fazer o que depois disso? Hein? Sair pela cidade
distribuindo cesta básica pros miseráveis, sopa pros desalojados e kit
humildade pros ricos?
– A ideia não é assim tão péssima, eu posso levar em
consideração.
– Chega de ironias, Ângela, chega! Cresça. Você é uma Albuquerque,
mas não uma simples Albuquerque, você é minha filha e herdeira da Vinhos
Albuquerque. Acha pouco?
– Eu acho até demais.
– Então tome um rumo! Você deve assumir os negócios da
família, como única herdeira disso tudo, deve optar por uma profissão em que
consiga fazer tudo isso crescer!
– Basta, meu pai, basta. O senhor quer o que? Quer apenas
que eu siga suas ordens, que eu faça o que lhe é melhor. Mas eu vou fazer
aquilo que me agradar, não vou ser um mero peão de algum jogo imposto pelo
grandioso Jorge Albuquerque. Ah, isso não.
– Ângela, tenha calma. – recomenda Regina, desesperada com a
discussão entre Ângela e Jorge.
– Calma, mãe? Está querendo que eu seja calma, mas a calma
que a senhora me pede deve ser que eu seja conivente com os desejos do meu pai.
Não, eu não serei calma! Eu sou uma pessoa com desejos próprios, eu estou
dizendo que vou seguir uma profissão, um sonho, e é isso que eu seguirei. Até
mais tarde, os dois. E não pense, papai, que o senhor vai conseguir me fazer
mudar de ideia, pois não vai.
Ângela arrasta sua cadeira para trás e sai da sala de jantar
sem terminar de comer, deixando seu pai com expressão de perplexidade e sua mãe
abafando um sorriso.
– Está vendo onde foi a liberdade de pensamento que você
quis dar a ela? Uma filha minha saindo da mesa antes do jantar, elevando a voz
e se achando a dona da razão. Onde isso vai parar? – indigna-se Jorge.
– Onde vai eu não faço ideia, mas espero que eu acompanhe a
carruagem e esteja bem perto pra ver. Com licença. – diz Regina, retirando-se
da mesa.
***
E na pensão de Hanna Curie, Álvaro e Sofia entram. Hanna
está no balcão da recepção assinando alguns papéis.
– É ela. A grande Hanna. – diz Álvaro a Sofia.
– Álvaro? Tão cedo e você de volta... E quem é essa moça? –
pergunta Hanna.
– Me chamo Sofia. Prazer em conhecê-la. – apresenta-se
Sofia.
– E pretende se instalar na minha pensão? – pergunta a dona
da pensão.
– É, sim, a Sofia veio alugar um quarto. – conta Álvaro.
– Hum, bem, não me leve a mal, mas... Ela tem como pagar?
– As minhas economias são poucas, mas são o suficiente pra
arcar com as despesas. Pode ficar tranquila, dona Hanna. – diz Sofia.
– Bom, fico mais tranquila sabendo disso. Afinal de contas,
a pensão não vive de vento, não?
– Claro. – responde Sofia.
– Bom, podemos ir escolher seu quarto?
– Nossa, claro!
Os dois entram em um quarto bem pequeno e arrumadinho. No
quarto, há uma cama, um pequeno armário, uma luminária e uma cadeira. A pintura
das paredes com a cor azul está inacabada e há algumas rachaduras na parede.
– Pelo que você pode pagar, é isso que eu tenho a oferecer.
– Nossa, mas tá muito bom! Muito arrumadinho, é aqui mesmo
que eu quero ficar.
– Então já que estamos todos de acordo, e já que a Sofia
está instalada, já pode conhecer os outros hóspedes. Que tal? – sugere Álvaro.
– Seria uma honra. – diz Sofia.
– Estão todos na sala, bando de desocupados, só sabem ver
televisão. Leva ela, Álvaro? – brinca e sugere Hanna.
– Claro que levo.
Ao chegarem à sala, os outros hóspedes ficam encarando Sofia
curiosos.
– Ninguém aqui dá boa noite? – pergunta Álvaro.
– Boa noite. – respondem os hóspedes.
– Boa noite. – diz Sofia.
– Desculpa a indelicadeza, mas... Quem é você? – pergunta
Augusto.
– Meu nome é Sofia.
– A Sofia é a nova moradora da pensão. – conta Álvaro.
– Ah, então se é assim, seja muito bem vinda Sofia. – diz
Cléo.
– Você vai gostar muito da pensão, o ambiente aqui é muito
agradável. – fala Josefina, com seu jeito sempre doce.
– É um prazer conhecê-la. – fala Tito.
– Imagina, o prazer é todo o meu.
Todos se encaram e sorriem. Hanna Curie, a dona da pensão,
chega à sala e diz:
– Tudo muito bem, tudo muito bom, todos já sintonizaram na
Sofia, mas amanhã o dia nasce cedo e sem esperar ninguém. Que tal irmos dormir?
– É uma excelente ideia. Já estou morrendo de sono. – diz
Tito, rindo.
– Sofia já decorou onde é o quarto, certo? – brinca Hanna.
– Já, sim, claro. Obrigado, Hanna, pela hospitalidade.
Aliás, obrigado a todos vocês, em especial ao Álvaro, que me trouxe até aqui.
Eu serei muito grata. Boa noite. – agradece Sofia, retirando da sala junto com
os outros hóspedes, que vão a seus quartos.
Hanna fica na sala pensando, um tanto quanto interrogativa,
segurando um livro na mão sobre magia e cartomantes.
***
No quarto de Augusto e Álvaro na pensão, eles conversam.
– Bonita ela, né? – sugere Álvaro.
– A Sofia? É, muito bonita. E parece ser uma garota muito
gente boa, também. – comenta Augusto.
– Gente boa, bonita, interessante, inteligente, as
qualidades da Sofia são excepcionais.
– Vem cá, Álvaro, cê tá gostando dessa garota?
– Eu? Gostando da Sofia? Tá tão na cara assim?
– Tá, tá bem na cara.
– Eu não sei, Augusto, está sendo tudo tão rápido... Ela é
uma garota brilhante. E mais cedo, na praça... Bem, eu e ela nos beijamos.
– Como assim?
– Não foi tão consentido quanto eu gostaria, ela estava bem
receosa, e eu até entendo ela, mas... Eu não vou desistir. Eu sinto uma coisa
tão intensa entre a gente, como se já nos conhecêssemos de uma outra vida, uma
outra estação, é uma... Uma sintonia tão intensa, uma coisa tão bacana...
– Apaixonado. Cê tá apaixonado por essa Sofia.
– Ela é frágil, Augusto. Eu vou proteger ela do tal
namorado, se ele vir atrás dela, isso eu já me decidi.
– Ela tem namorado?
– Deve ser ex, sei lá, é uma situação bem delicada.
– Bem, eu vou tentar entender essa situação enquanto eu
durmo. Bora deitar?
– Como diria o povo da cidade grande: Já é. Boa noite.
Cada um se deita em sua cama. Álvaro fica olhando para o
teto, pensando em Sofia.
***
Na cozinha de casa, Jenny frita um ovo já que está com muita
fome, enquanto Mary Leh medita no tapete da sala. Jenny canta enquanto cozinha:
– Nas panelas, no telhado, sujeira pra lado. Ninguém
respeita a prostituição, mas todos acreditam no banco da lotação... Que país é
esse? Que país é esse? Mary, eu acertei a letra da música? Mary? – pergunta
Jenny, após cantar, porém ela vai até Mary, já que a irmã continua meditando.
– Cê tá me ouvindo? Eu acho que decorei a letra daquela
música que você gosta, da Legião Humana, saca? Vou cantar...
Nesse momento, ouve-se
um som de explosão. Mary acorda do transe. Na cozinha, a frigideira pega fogo e
explode.
– Nossa... É como diz a letra da música: Sujeira pra todo
lado. – brinca Jenny.
– Eu não posso nem meditar que você já me apronta, que foi,
Jenny? – pergunta Mary, espantada.
– Nossa, eu aqui na maior boa vontade, fazendo um rango pra
gente, aprendendo a letra da música que tu curte, e você aí, com essa
ignorância toda. Sabe o que eu digo? Eu me recuso!
– Desculpa, Jenny. Mas eu estava meditando. Não gosto de ser
atrapalhada quando medito, você sabe disso.
– Ah é, desculpa. Mas e aí, bora limpar essa bagunça?
– Antes eu preciso te dizer uma coisa. Sabe a entidade que
fala com a gente?
– Sei sim. O que tem ela?
– Ela nos deu uma missão muito importante. Devemos arrumar
dois porcos e um corvo. E vivos!
– Mas pra quê?
– Bom, isso ela ia dizer quando você me tirou do transe, mas
deve ser pra algum ritual... O fato é que devemos provar nossa fé, devemos
obedecer as entidades superiores. Amanhã cedinho partiremos em busca do que foi
pedido. E acho melhor deixamos a limpeza pra outra hora e irmos dormir. Quem
sabe a entidade não se comunica e diz pra que temos que encontrar tais animais?
– Boa ideia, minha irmã. Boa ideia. Mas vem cá: Como vamos
arrumar esses bichos aí?
– Vamos a fazenda Leite de Porca, fica pertinho daqui. Agora
vamos pra cama. Anda. – fala Mary, em tom autoritário, indo ao quarto, junto
com Jenny.
***
Na casa de Sofia e Max em Bulires, ele e Carmen andam
praticamente nus e arrumam suas mochilas para uma viagem.
– Para um pouco e me diz: Pra onde a gente vai? – questiona
Carmen, curiosa.
– Você ainda pergunta? Vamos atrás dessa vaquinha da Sofia,
horas. – fala Max, rindo e provocando o riso de Carmen.
– E por que nós temos de ir atrás dessa infeliz? Sei lá, ela
é tão sem sal, eu sou muito mais eu...
– Eu também sou mais você, meu amor. Mas a Sofia é meu
lucro, é o nosso futuro garantido. Eu já te expliquei sobre o meu esquema.
– Ah sim.
– Não se esqueça, Carmen: eu sou max, muito máx, e não é só
o nome. Por isso que esse esquema nunca dá errado comigo.
– Se você resolver me prostituir, serei obrigada a bancar a
Nazaré Tedesco e te empurrar da escada dessa casa horrível. Mas enfim, acho que
não devemos perder tempo, a galinha da Sofia já deve estar bem longe... Onde
podemos procurar?
– Vamos começar em Pitenópolis e Mirolis, eu acho.
– Boa ideia. Vamos logo.
– Primeiro vamos arrumar nossas coisas.
– Então tá. Mas vem cá, Max... A songa monga da Sofia pode
ter um vestígio de inteligência e voltar. Que acha da gente se antecipar e
deixar uma surpresa praquela vaca velha?
– Não entendi.
Carmen pega uma caixa de fósforo e uma garrafa de álcool. O
casal coloca fogo na casa. Carmen ri bastante e em tom alto. Os dois saem da
casa carregando algumas bolsas e malas. Em seguida, sobem numa moto e saem em
disparada. Poucos minutos depois, a casa explode.
***
Nem bem o dia anterior sai da cabeça do povo de Pitenópolis,
o novo dia já raia com a promessa de ser cheio de sonhos, amores e alegrias. E
na pensão de Hanna Curie, todos estão tomando o café na sala de jantar, menos
Augusto. O clima é de bem estar. A mesa está repleta de alimentos e bebidas,
como sucos de diferentes frutas, pães, bolos, laticínios, etc. Depois de um
tempo, Augusto chega, vestindo uma roupa simples, composta por uma calça cinza,
blusa azul e sapato preto.
– Apareceu o Margarido! Bom dia, Augusto. – brinca Hanna.
– Bom dia Hanna, bom dia pessoal. Eu estou quase atrasado.
Até mais. – avisa Augusto, que pega uma maçã e se retira.
– Ele nem falou conosco, Tito. – fica chateada Josefina.
– Ele disse que está quase atrasado, querida. Vamos deixar o
Augusto trilhar a vida dele. – responde Tito, abraçando Josefina.
Sofia também chega à sala de jantar, dizendo:
– Bom dia.
– Bom dia, Sofia! – cumprimenta Josefina, com tom adorável.
– Bom dia, Sofia. Como foi a sua primeira noite por aqui? –
pergunta Hanna.
– Dormi muito bem. Eu estava exausta, e agora me sinto
maravilhosa.
– Milagres de Hanna Curie. Senta aqui do meu lado, Sofia? –
convida Álvaro.
– Sim. – responde Sofia, sem jeito.
Todos continuam
tomando café, mas dessa vez em silêncio.
– Tá mais relaxada agora? – pergunta Álvaro à Sofia.
– Tô, sim.
– Uma noite de sono sempre ajuda nessas situações...
– É. Ajuda mesmo.
– E você pensou no que aconteceu ontem? Digo, o beijo.
– Eu dormi bastante. E foi imediato. Não deu tempo que ficar
pensando em nada.
– Mas agora você está acordada. Dá tempo de pensar e de
realizar.
– Bom, eu não tô com fome agora... Eu vou escovar meus
dentes e ver o que eu faço do meu dia. Até mais. – diz Sofia, quase saindo da
sala.
– Gente, vocês viram aquele incêndio lá em Bulires? – pergunta Cléo.
– Como assim? –
pergunta Sofia.
– Colocaram fogo numa casa lá. Saiu até no jornal daqui de
Pitenópolis. Olha aqui a casa, Sofia, antes e depois do incêndio. – fala Cléo,
mostrando o jornal para Sofia.
– É a minha casa.
– Como assim, Sofia? – pergunta Álvaro.
– Essa casa da foto é a minha casa. Aqueles dois botaram
fogo nela.
– Quem são ''aqueles dois''? – pergunta Álvaro.
Sofia sai da sala chorando, deixando Álvaro pensativo.
Do outro lado da mesa, Hanna fica observando Álvaro e
lembrando de suas paixões do passado.
***
Na vinícola da ''Vinhos Albuquerque'', os funcionários estão
em mais um dia duro de trabalho. Augusto chega à vinícola, andando depressa.
Ele cumprimenta Pedro:
– Bom dia, Pedro.
– Bom dia, Augusto. Vou lhe mostrar as tarefas do dia.
Pedro mostra as tarefas para Augusto, que logo aprende. Após
um tempo, Augusto inicia seu trabalho na coleta de uvas. Jonas e Aurora também
trabalham nessa tarefa, até que Jonas humilha Augusto:
– Você por aqui, malabarista? O nível caiu bem. – comenta
Jonas a Augusto, com cara de desprezo.
Augusto não responde Jonas e prefere ignorá-lo.
– Jonas, não faça isso. Ele está começando hoje. O Augusto é
um bom rapaz, é amigo da Leia. – fala Aurora ao marido.
– Não estou nem aí.
De longe, Pedro observa a cena e aproxima-se da situação.
– Jonas, você quer ser demitido? – pergunta Pedro a Jonas,
com tom de ameaça.
***
No seu quarto, Ângela mexe em seu notebook. O aparelho é novo
e contém adesivos de flores na sua parte traseira. Regina entra no quarto.
– Quantas vezes eu pedi que a senhora batesse antes de
entrar? Eu tenho minha privacidade, mãe. – fala Ângela.
– Pois é, minha filha, me desculpe. Eu esqueço sempre que
você cresceu, não é mais minha menina, e sim uma mulher adulta. – desculpa-se Regina, aproximando-se da filha.
– Só pelo jeito como a senhora fala comigo eu a perdoo, mas
que não se repita.
– Não irá se repetir. Mas vem cá, minha filha, vim tratar de
um assunto sério com você...
– Se for recado do meu pai, eu dispenso. Nada me fará mudar
de ideia.
– Vim sim a pedido de seu pai, confesso. Mas é algo que eu
concordo com ele. Ele insiste que você vá até a vinícola, veja como é feito o
trabalho, tudo. Talvez, se você ver com seus próprios olhos, você mude de
ideia.
– Não sei...
– Você quer ser professora, não quer? Então, minha filha, a
ignorância e o desdém são características abomináveis nessa profissão. Vá até a
vinícola conosco, conheça o trabalho. Se não mudar de ideia, vai ter uma história
a contar aos seus alunos: a produção de vinhos. Que tal?
– Só porque a senhora me pediu, dona Regina, eu aceito. –
responde Ângela, sorrindo.
***
E na vinícola Albuquerque, Jonas fica com medo de ser
demitido e desculpa-se com Augusto:
– Desculpa aí, Augusto.
– Agora sim, Jonas. Espero que isso não se repita. – avisa
Pedro.
– Não irá. Acho que agora, então,
nós podemos voltar ao trabalho. Ou mais algum bom samaritano vai querer entrar
pela causa de alguém? – diz Jonas, provocando um silêncio na vinícola.
Para a surpresa de todos, Ângela e Regina Albuquerque
aproximam-se.
– Boa tarde. – diz Regina,
sorrindo.
– Dona Regina? Ângela? O que fazem
aqui? – pergunta Jonas, surpreso.
– Então... Ângela... Você é muito
mais linda do que eu imaginava! – fala Augusto, em tom baixo, porém somente
Ângela o escuta.
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